O final do ano é uma época significativa para muitos de nós. A proximidade das celebrações do Natal e do Ano Novo costuma despertar várias emoções. No entanto, nesse período, acentua-se também a saudade dos entes queridos e pode ser delicado lidar com o luto e as festas de fim de ano.
Gostamos de compartilhar afeto, presentes e lembranças em meio às luzes de Natal. Geralmente, em um momento feliz e de celebração entre amigos e familiares, nós refletimos sobre as nossas vitórias e acerca das dificuldades dos meses que passaram.
Definitivamente, 2021 não foi um ano fácil, especialmente em meio à pandemia de Covid-19. A vacinação reduziu o isolamento derivado das medidas preventivas de 2020, mas ainda tivemos muitos óbitos que afetaram os lares brasileiros.
Neste final de ano difícil, como podemos aprender a lidar com a perda de alguém querido? Conversamos com a psicóloga Ana Lúcia Naletto, do Centro Maiêutica, para saber mais sobre o tema. Continue a leitura para conferir!
Por que o luto no final de ano é mais difícil?
A família é uma das questões centrais tanto do Natal quanto do Ano Novo. Celebramos a alegria da reunião entre as pessoas que amamos e o fechamento de um ciclo para todos nós. Contudo, é também um contraste direto com as pessoas que estão em luto nesse momento por despertar nostalgia e recordações.
O enlutado pode se sentir confuso diante da felicidade associada a essas datas especiais. A pessoa não sente a alegria das festividades e tem o emocional afetado. Em conjunto, nota-se mais a ausência de alguém querido à mesa. São emoções com as quais é difícil lidar e que tornam o período desafiador, sendo a perda recente ou não.
O Ano Novo também traz à tona a sensação de fechamento de um ciclo. A família que está vivenciando o luto tende a sentir dificuldades com essa questão. Já houve uma perda, uma despedida, então, fechar o ciclo é uma situação dolorosa. O desejo de confraternizar, comumente, é perdido diante desses sentimentos.
A pandemia
A pandemia de Covid-19 trouxe uma realidade diferente para as nossas vidas. Em 2020, foram milhares de casos fatais. Muitas pessoas, principalmente com familiares idosos, escolheram respeitar o isolamento social durante as festas de final de ano por questões de segurança. Isso acabou por acentuar a ausência e a solidão.
Embora ainda tenhamos que lidar com o cenário e com as mortes decorrentes da disseminação acelerada da doença, o isolamento social será muito menor no final de 2021. Esse será, então, um período no qual as pessoas poderão se reunir novamente em segurança, especialmente as famílias em luto — que necessitam de apoio e de carinho.
Como é possível celebrar as festividades?
Mesmo que a morte de um ente querido não seja recente, o impacto tende a ser muito mais sentido nessa época. É possível que exista até certa cobrança externa para que o enlutado participe das reuniões familiares com alegria. É uma questão delicada e as famílias que estão passando pelo luto podem se perguntar como agir diante desses impasses. O que fazer? O que falar?
Cada família reage à perda de um ente querido de uma forma diferente e cada pessoa demonstra tristeza do seu modo. Precisamos ter isso bem claro em mente e devemos nos adequar às possibilidades do que é suportável para cada um, sem forçar ninguém a nada.
Mesmo com o luto no coração, podemos refletir sobre algumas ideias para auxiliar no processo. Veja algumas sugestões para tornar esse momento mais tranquilo a seguir.
Respeite os seus limites
Mesmo algo aparentemente simples, como enfeitar a casa no Natal, pode ser um exercício complicado para a família em luto. Contudo, você não tem a obrigação de organizar essa data como o fazia antes. O importante agora é lidar com a situação de acordo com as possibilidades pessoais do que é suportável fazer.
Se for o caso, não há problema em optar por não celebrar as festividades. Não se culpe. É um período do ano no qual as famílias precisam conversar, preparar-se e aceitar a dor do luto. A partir desse diálogo, as pessoas conseguem colocar os seus sentimentos “para fora” e tomar a melhor decisão em relação ao final do ano.
Respeite a dor do outro
As pessoas vivenciam o luto de formas diferentes. Enquanto um pode estar animado e tentando se reconstruir, o outro pode estar triste e expressando a sua dor. Não é o momento de julgar a forma como cada indivíduo lida com o luto e não há um consenso sobre a família precisar estar no mesmo nível de energia. O fundamental é que estejam todos juntos e que contem com essa rede de apoio, sem julgamentos.
Não se isole
Por mais difícil que seja encontrar outras pessoas no momento, é necessário não se isolar completamente. Mesmo para uma pessoa que esteja mais recolhida, o recomendável é participar do convívio e das refeições — ainda que brevemente. Do contrário, não sabemos quais emoções e crises podem surgir, daí a importância de ter alguém por perto.
Amigos e familiares também precisam participar ativamente do acolhimento da pessoa em luto. Não se deve cobrar determinado comportamento, mas convidar, ouvir e estar perto sem críticas. É preciso ter humanidade e delicadeza, pois é uma situação difícil para todos.
Faça uma homenagem
Homenagear o ente querido com algum gesto é uma boa forma de, simbolicamente, sentir a sua presença durante as festividades. Essa, porém, é uma sugestão que depende do momento em que a família está e se ela considera suportável fazê-lo, pois deve ser uma atitude que traga certa leveza em meio à dor. Nesse caso, permita-se buscar no coração as boas memórias que permanecem “vivas” com a pessoa. Alguns exemplos para fazê-lo são:
- montar uma árvore de Natal com fotos dos familiares, inclusive com aquelas dos que já não estão mais presentes;
- fazer uma pausa na celebração para contarem histórias do falecido;
- incluir o seu prato ou a bebida favoritos na ceia;
- ouvir as músicas de que o ente que partiu gostava.
Procure ajuda profissional
O processo de luto é pessoal e não há um tempo específico para passar. Entre dois a três meses após o falecimento, as dores vêm em “ondas”. Entretanto, é preciso estar atento a situações mais delicadas, quando a pessoa não está conseguindo se reconstruir e cuidar de si. Casos nos quais haja muito isolamento ou problemas de saúde também merecem atenção.
Tanto o apoio médico quanto o psicológico são recomendados. O psicólogo especialista em luto é um profissional que estudou e se capacitou para ajudar a família nesse processo. Se for necessário consultar um médico por conta da saúde física, é recomendável comunicar que se está vivendo um momento de luto.
Existe muita dor e são muitas as dúvidas envolvidas quando perdemos alguém querido. O profissional estará ali para ajudar a tornar esse processo natural e saudável na medida do possível. O Primaveras, por exemplo, oferece encontros de Apoio ao Luto mensalmente para qualquer pessoa, cliente ou não. É uma ajuda coletiva, gratuita e online — para participar, mais informações estão disponíveis no número (11) 99789-5394.
A verdade é que o luto e as festas de fim de ano não precisam ser encarados como problemas. Ao relembrar alguém, não se está comemorando a sua partida, mas, sim, a vida da pessoa amada que se foi. A morte nos ensina a olhar para o momento presente de forma diferente e a valorizar ainda mais quem está ao nosso lado no dia de hoje.
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