A morte pode ser um momento muito doloroso, representando perda, início de um novo momento com muitas ausências, entre uma série de outros pontos que podem ser difíceis para familiares e amigos. E boa parte dos ritos que temos de despedida estão alinhados com essa visão.
Mas, acredite, os ritos fúnebres não são os mesmos em todo o mundo. Cada cultura tem uma peculiaridade e muitas das questões que vemos em nossa cultura vieram, também, de outros lugares do mundo. Conhecer essas possibilidades permite que possamos ter um outro olhar sobre a morte: rito de passagem? Festa? Desapego do corpo? Vemos todas essas possibilidades em diversos lugares.
Confira a seguir algumas dos principais e mais curiosos ritos fúnebres que existem e aproveite para quebrar alguns tabus sobre a morte. Boa leitura!
O surgimento do uso da coroa de flores
Um dos ritos fúnebres mais comuns e que se repete em todo o mundo é oferecer uma coroa de flores para a pessoa falecida como forma de homenagem. Mas isso tem uma origem bastante antiga e há duas versões de como surgiu esse costume.
A primeira diz que essa é uma prática de famílias antigas e que era uma forma de confortar as famílias, já que os velórios eram feitos na casa dos familiares da pessoa falecida. Como as flores sempre foram uma forma de presentear, essa seria uma representação das condolências para os parentes de quem partiu.
Já a segunda versão — e uma das mais divulgadas — está relacionada ao período histórico da Grécia e Roma Antiga. Nesse período, havia o ritual de oferecer guirlandas de flores para vencedores de batalhas, como uma forma de homenagear seus nomes. Quando esses guerreiros faleciam, essas coroas também eram colocadas nos caixões para relembrar seu heroísmo.
A transição para a morte na África
A África é um continente rico em diversidade cultural. Apesar de mencionarmos de forma una, temos diversos povos no local, com suas crenças, culturas, hábitos, mas que convergem em muitos pontos. E um deles é, justamente, a forma como lidam com a morte.
Em boa parte das religiões de matriz africana, a vida não termina com a morte. Muito pelo contrário, aqui é apenas uma das transições que passamos em nossa existência. Assim, vida e morte não são exclusivos; são apenas uma fase em que a pessoa está naquele momento.
Contudo, quando essa jornada não é feita de forma adequada, a pessoa pode ficar inconformada com essa interrupção da sua existência no mundo dos vivos e, assim, acredita-se que ela permanece por aqui incomodando aqueles que ficaram.
Por isso, algumas tradições do país existem justamente para lidar com essa situação. Por exemplo, em alguns lugares, o ente que falece em casa é retirado por um buraco na parede, e não pela porta. E, posteriormente, no caminho até o cemitério, o trajeto é feito em zigue-zague.
Tudo isso é feito para dificultar que o ente falecido relembre o caminho de volta e possa atormentar os familiares que permaneceram. Por isso, logo após a retirada de casa, o buraco é fechado, para evitar que ele possa reconhecer o local.
A vida é uma festa
Um dos grandes choques para muitos no Brasil é encarar culturas nas quais a morte é lidada com festa. Um dos países em que vemos isso é em Taiwan. Em algumas regiões rurais do local, o velório possui música alta, dança, pessoas gritando e assoviando. Há, ainda, muitas vezes, rituais de dança que simbolizam a vontade que a pessoa falecida tinha de ser abençoado com muitos filhos.
Outro país que celebra a morte é a Irlanda. Os famosos pubs são lugares muito procurados após os funerais. Os familiares vão com os amigos do ente querido para o local e celebram o momento com comida, cerveja e histórias para relembrar a pessoa que se foi. Essa é uma forma de lidar como luto que também é bem interessante.
E, claro, não podemos deixar de falar do México, não é mesmo? No país, há a visão cultural de que a morte é uma forma de se libertar das futilidades da vida. Por isso, o Dia de Finados é de grande festa, sendo um verdadeiro marco no país (Dia de Los Muertos, que foi retratado, por exemplo, no filme “Viva: a vida é uma festa”).
Os moradores do país realizam festivais de música, preparam comidas e fantasias das tradições asteca e católica. A festa teve tanta repercussão que foi incluída na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.
A cremação em Bali
Em Bali, há a tradição de que a existência no corpo físico é uma limitação e, portanto, a morte é um momento de libertação. Por isso, a cerimônia de cremação é muito importante, pois representa o momento de liberar a alma para que ela possa habitar um novo corpo em uma nova existência. Garantir isso é um dever sagrado para com os familiares.
O dia da cerimônia de cremação é composto por três dias de festa, nos quais ocorrem os seguintes rituais:
- primeiro dia: limpa-se o corpo do ente com água benta;
- segundo dia: são feitas as ofertas para o ente querido;
- terceiro dia: ocorre a cremação de fato.
Após esse momento, as cinzas são colocadas em uma urna em formato de torre, que pode alcançar até 12 metros de altura. O tamanho representa as riquezas da família.
Os caixões fantasia de Gana
Consegue imaginar ser enterrado em um caixão com formato de peixe ou leopardo? Pois é, em Gana isso é comum e, inclusive, a estilização dos caixões é uma febre. Tanto que o hábito de produzir caixões personalizados é uma tradição que passa entre gerações no país.
Esse hábito surgiu nos anos 1950, por meio do carpinteiro Seth Kane Kwei, que produziu o primeiro caixão fantasia. Ele produziu um caixão avião para sua avó, que era fascinada pelo meio de transporte aéreo. Como ela nunca pôde viajar de avião, o neto criou um caixão nesse formato como um mimo para que ela pudesse realizar seu sonho.
A partir disso, as encomendas passaram a chegar e isso se tornou uma tradição no país. Além disso, esse tipo de questão só virou uma febre porque no país há a crença predominante de uma vida após a morte. Por isso, essa é uma forma de homenagear nossos ancestrais que, felizes, poderiam influenciar a vida de seus familiares encarnados.
Hoje temos diversos formatos de caixões fantasia, entre os mais pedidos:
- garrafas de Coca-Cola;
- celular;
- abacaxi;
- animais;
- nota de dinheiro;
- símbolos religiosos.
Os ritos fúnebres estão, portanto, muito associados com a cultura local. Mesmo que tenhamos dor e saudade, podemos ter formas diferentes de lidar com isso. E, claro, o importante é encontrar formas que sejam confortáveis para você e seus familiares.
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