luto sem despedida luto sem despedida

 Como lidar com o luto sem despedida?

7 minutos para ler

Se você passou pelo luto, sabe que essa é uma situação delicada, dolorosa e que exige tempo. Cada pessoa lida de um jeito, mas há algo que muita gente tem em comum: a necessidade de dizer adeus. No entanto, o luto sem despedida é uma realidade em alguns casos.

No começo de 2020, foi declarada a pandemia do novo Coronavírus, causador da síndrome respiratória COVID-19. Para frear o contágio, velórios e ações de despedida para quem se foi têm sido evitados. O grande problema é que isso gera um impacto profundo na mente e nos sentimentos de quem passa pela situação.

A seguir, veja como é possível lidar com o luto que ocorre sem despedida e compreenda como passar por essa fase.

Entenda a importância do luto para a aceitação

O luto exige tempo, não é imediato e nem tem uma duração rápida. Ele também acontece de forma individual e se dá de um jeito diferente para cada um. Quem diz isso é Ana Lúcia Naletto, psicóloga Clínica e de Famílias e cofundadora do Centro Maiêutica de Psicologia. Há 18 anos, ela atende a famílias em diversas situações — especialmente as enlutadas.

É importante dar espaço para o luto, mesmo que, a princípio, ele pareça apenas um processo de bagunça interna. Isso é necessário para poder curar a ferida da perda e para poder ressignificar a vida, reinventar-se, reorganizar-se para seguir”, comenta sobre a ideia de reorganização interna da nossa psique.

Além disso, a psicóloga faz questão de frisar a importância dos rituais de despedida. Eles tornam o luto mais saudável, embora ele permaneça dolorido. Cerimônias de velório, sepultamento e missa de 7ª dia estão entre as alternativas utilizadas pelas famílias. Principalmente, são momentos para compartilhar a dor e entender melhor a situação.

Segundo Ana Lúcia Naletto, é por meio dessas situações que “a pessoa em luto pode partilhar a sua dor, validar a sua perda, receber apoio de sua rede de amigos e da família, se aproximar do afeto que os outros nutrem por ela e que nutriam pelo falecido. Tudo isso é acolhedor e importante para ela se sentir amparada, cuidada e acompanhada”. Então, essas são etapas essenciais para encarar a situação.

Esses rituais também são relevantes para homenagear e honrar a pessoa que faleceu, o que ajuda a vivenciar o processo da melhor forma. “Não é pelo fato de os rituais serem importantes que eles deixam de ser tristes e sofridos, mas são necessários para concretizar e partilhar a perda, diz.

Saiba como vivenciar o luto sem despedida

O fato de esses rituais terem tantos impactos faz com que o luto sem despedida seja mais dolorido ou complicado. Afinal, é uma situação atípica e que afeta a forma como processamos o falecimento. É o que Ana Lúcia comenta:

“Neste momento de pandemia por COVID-19, a impossibilidade de realizar os rituais, de trazer os amigos e família para perto, de honrar e homenagear o falecido pode trazer uma sensação de solidão para a família em luto. Também pode fazê-los se sentir mal por não poder oferecer uma última homenagem, dificultar a concretização da perda e deixar aquela sensação de irrealidade que se tem no começo do luto”.

Além de tudo, explica a psicóloga, esse é um cenário que aumenta a vulnerabilidade, pois a perda fragiliza. Muita gente, inclusive, fica com a sensação de que não dá para fechar o ciclo da vida de quem se foi para começar a vivenciar a ausência da pessoa querida.

No entanto, isso não significa abrir mão de passar por essa experiência e por todas as fases do processo, que são importantes. Segundo a psicóloga, “não é porque não é possível fazer os rituais tradicionais (velório, missa etc.) que não seja viável fazer outros” — e essa é uma forma de passar pela situação.

Veja o que pode ser feito para substituir a despedida física

Então, isso significa que o luto sem despedida física não precisa se estender a outras formas de dizer adeus. Na verdade, a indicação é para que cada pessoa realize os próprios rituais para encarar essa fase da maneira mais saudável.

“Nós temos incentivado as famílias a promover rituais online, compartilhar com os amigos fotos, uma música, uma mensagem sobre quem partiu. Os rituais particulares também são ferramentas muito potentes do ponto de vista psicológico”, sugere.

Inclusive, é possível elaborar despedidas pessoais, que façam sentido para a família e que ajudem a processar, aos poucos, a perda. “Criar estes rituais, cantos e símbolos é muito importante e é uma forma de ritualizar, de homenagear quem amavam”, explica a psicóloga.

Há, ainda, outras formas de dizer adeus para quem se ama. A especialista indica criar um ritual que pode incluir uma roupa ou um item preferido da pessoa que partiu, por exemplo. Quando tudo isso passar, vale pensar em organizar uma despedida coletiva e presencial.

A verdade é que buscar esses caminhos é necessário, até mesmo, para lidar com a culpa. Na situação trazida pela COVID-19, o sentimento é ainda mais intenso, já que, desde a internação, o paciente segue sozinho. “Quando o quadro evolui para a cura, é possível receber a pessoa de volta e, então, lhe dar todo o carinho e cuidado que ficou impedido. Mas, quando evolui para óbito, a sensação de distanciamento é incrivelmente dolorosa”, pontua a psicóloga.

Compreenda a importância do relacionamento familiar nesse momento

O papel dos familiares e dos amigos é essencial diante da perda. Numa situação de luto sem despedida, esse apoio é fundamental. É o que explica a especialista no assunto:

“Ter uma rede de suporte em um momento de luto é muito importante. Ter para quem ligar, ter alguém que se preocupa com você, com quem você pode contar é essencial, porque o luto fragiliza. A rede de apoio precisa estar presente, mas, neste período de isolamento social, esta presença pode se fazer a distância”.

Como quem deseja abraçar a pessoa em luto não pode ir até ela nessa fase, Ana Lúcia Naletto sugere algumas ações, como:

  • ligar;
  • mandar uma mensagem;
  • enviar uma foto;
  • deixar uma flor, uma comida, um carinho na porta da família em luto;
  • dizer um “bom dia”;
  • disponibilizar-se para fazer algo, como uma oração, uma conversa ou simplesmente ouvi-la.

O fato é que, nesse momento, ajudas práticas e afetivas são muito bem-vindas. Quem está de luto precisa, principalmente,ser ouvido, ser acolhido, que aguentem que ele chore se quiser, que aguentem deixá-lo falar sobre o que desejar ou mesmo ficar em silêncio”, segundo a especialista.

No geral, recomenda a psicóloga, é o momento de pensar em novas alternativas. “A despedida, em tempos de COVID-19, precisa ser reinventada e não suprimida. Tudo tem que ser reinventado, assim como os rituais de despedida, o apoio da família e dos amigos”, finaliza.

O luto sem despedida se torna mais difícil e é por isso que é necessário buscar novas formas de agir. Com essas orientações, será possível passar por essa fase delicada.

Para ter todo o amparo que o momento de perda exige, entre em contato conosco do Primaveras e veja como podemos ajudá-lo nessa situação.

Posts relacionados

5 thoughts on “ Como lidar com o luto sem despedida?

  1. Bom dia
    Infelizmente eu sou uma pessoa que também estou passando por essa situação do luto sem despedida….eu li tudo que foi escrito neste blog,eu não estou conseguindo aguentar essa dor, essa tristeza e sofrimento… Me senti confortável em saber sobre essa orientação e direção da psicóloga.
    Eu preciso de ajuda

    1. Prezada Sra.Alexandra, bom dia!

      Primeiramente gostaríamos de expressar nossos sinceros sentimentos pela perda do seu ente, e nos colocar a inteira disposição para ajudá-la no que for necessário.

      Possuímos um grupo de apoio ao enlutado, com assistência psicológica que auxiliam as famílias nesse processo de vivência do luto.

      Estamos encaminhando sua mensagem á área responsável que em breve retomará com este contato.

      Aproveitamos para reforçar que o Primaveras está sempre à disposição para apoia-lo naquilo que for possível ou que precisar em seu luto.

      Conte conosco para o que for preciso.

      Um forte abraço,

      Equipe Primaveras

Deixe um comentário