Uma das poucas certezas da vida é que ela, em algum momento, chega ao fim. Muitos não se dão conta disso até perderem uma pessoa próxima, quando começam a viver o luto pela primeira vez.
Não importa quantas vezes isso aconteça ao longo da vida, nunca é uma experiência fácil. Porém, ainda é algo que todos precisam lidar em algum momento para aceitar a perda e conseguir seguir em frente.
Ao mesmo tempo, é importante ter atenção às suas próprias emoções. Suprimir os sentimentos negativos associados ao luto apenas agrava a dor que ele causa, dificultando ainda mais seu processamento.
Porém, é possível viver o luto sem desrespeitar esses sentimentos. Assim, você tem uma oportunidade melhor para seguir em frente. Acompanhe e veja alguns dos passos mais importantes.
1. Entendendo o luto
Um dos primeiros desafios para viver o luto de forma saudável é entender o que ele representa. São tantos sentimentos pesados nesse momento que pode ser difícil parar para compreendê-los. Ainda assim, é o primeiro passo.
Em sua definição, o luto é o sentimento de angústia e tristeza associado à perda de uma pessoa querida. O termo também é usado para se referir ao período em que esse sentimento persiste. É uma reação natural a qualquer perda, a qual não precisa ser reprimida.
Porém, também há muitas dúvidas associadas ao luto. Especialmente quando se trata de vivê-lo de uma forma mais saudável. A começar pelo que é considerado “saudável” nesse período.
Um processo, não um estado
O primeiro ponto que todos devem compreender é que o luto não é simplesmente um estado de ser. Trata-se de um processo pelo qual uma pessoa passa. Algo necessário para lidar com a perda.
Muitas pessoas ainda se referem aos estágios do luto, por exemplo. Eles eram descritos como as diferentes fases pelas quais uma pessoa enlutada passa no caminho para a aceitação. Porém, hoje entendemos que esse modelo não corresponde também à realidade.
O luto pode envolver negação, raiva ou depressão, mas não se trata de um caminho fixo. A ordem e intensidade que as emoções se manifestam variam de acordo com seu contexto e com o próprio indivíduo.
Você deve notar essa diferença ao conversar com um amigo de luto. A cada interação, seus sentimentos devem seguir direções diferentes, até encontrar algum grau de paz.
Cada um tem o seu próprio tempo
Outro aspecto que você nunca deve esquecer é como o luto pode ser drasticamente para cada pessoa. Como resultado, é impossível controlar o tempo pelo qual estes sentimentos persistem. Alguns conseguem processar essas emoções em pouco tempo, enquanto outros podem levar anos para encontrar algum grau de paz com a perda.
Também é importante lembrar como o contexto de vida de uma pessoa informa esse sentimento. O luto em idosos, por exemplo, vem com uma série de outras questões associadas. Muitas das quais não costumam aparecer no luto de uma pessoa mais jovem.
Assim como você não pode forçar outras pessoas a seguirem em frente após a perda de uma pessoa próxima, é importante não se forçar a fazer o mesmo. Cada passo nessa jornada deve ser dado voluntariamente, ou ele não será dado na direção certa.
2. Os principais sintomas dessa fase
Para quem vive o luto, ele se manifesta tanto na mente quanto no corpo. Não é incomum sentir diversos sintomas no seu dia a dia, tanto com alterações físicas quanto comportamentais e emocionais.
Veja aqui alguns dos principais exemplos que você pode identificar.
Exaustão emocional
A sustentabilidade emocional é um fator importante para uma vida saudável. Encontrar um estado de ser que seja satisfatório e que possa ser mantido regularmente, sem esforço ou transtornos. Porém, o luto interfere diretamente nessa busca.
A onda de sentimentos presentes nesse momento demanda muito da mente e do corpo. Isso quase sempre leva a um estado de exaustão emocional, onde seu entusiasmo e empenho para todo tipo de atividade se esvazia.
No dia a dia, esse sintoma se manifesta em um estado de apatia. Não se trata apenas de tristeza, mas de não ter energia para engajar emocionalmente com nada ao seu redor. Em alguns casos, pode até faltar disposição para sentir raiva. Algo que pode ser ainda mais angustiante.
Isolamento
Estar com outras pessoas pode ser um fator positivo para quem precisa viver o luto, mas também pode parecer algo negativo no momento. Especialmente se essas pessoas também estão passando pela mesma dor e buscam seu apoio.
Uma reação comum diante dessas demandas é o isolamento. Ao se separar das pessoas próximas, você pode sentir alívio, pois não há ninguém para te fazer lembrar da sua perda. Porém, você já deve imaginar como essa pode ser uma armadilha.
Em alguns casos, essa tentativa de isolamento pode ser mais agressiva, forçando pessoas próximas a se distanciar. Com o tempo, essa solidão apenas agrava o sentimento de perda.
Também é importante destacar que esse isolamento pode ocorrer mesmo quando uma pessoa tem interações sociais regulares. Não se trata simplesmente da ausência, mas da falta de conexões significativas para preencher esse vazio.
Dificuldade de raciocínio
A experiência do luto quase sempre envolve algum nível de estresse. Seja pela própria perda, por ter que lidar com todas as exigências desse momento ou pelas demandas de outras pessoas ao redor. Como resultado, não é incomum sentir algum nível de confusão mental.
É difícil manter o raciocínio adequado durante momentos de estresse e transtorno emocional. O luto não é diferente, com todos os sentimentos complexos que ele envolve. Não se pode exigir que você mantenha muito mais em sua mente do que já tem que lidar.
Falta de autocuidado
Após o falecimento de um ente querido, é necessário lidar com uma série de responsabilidades. Desde a solicitação de serviços funerários até o contato com familiares e amigos, para que todos possam comparecer ao velório e prestar suas homenagens.
São tantas exigências, que acaba sendo necessário estabelecer certas prioridades. Algumas demandas precisam esperar até que outras sejam concluídas. Porém, uma resposta comum de muitas pessoas é negligenciar sua própria saúde e bem-estar em nome dessas demandas.
Por exemplo, elas podem deixar de praticar atividade física regularmente, prejudicar sua alimentação ou perder o sono para poder cumprir certas tarefas. Essas atitudes funcionam como uma forma de escapismo, um esforço para tirar o foco da experiência do luto.
Gradualmente, essa escolha deixa marcas no corpo e na mente, dificultando ainda mais o processamento do luto.
Ansiedade e insegurança
Outra experiência comum resultante dessa perda é um estado de insegurança emocional. Especialmente quando essa pessoa querida servia como ponto de apoio para sua vida, oferecendo estabilidade ao seu dia a dia.
Esse sentimento de ansiedade também pode ser voltado para si mesmo. Ter contato com uma pessoa nos últimos momentos de sua vida e ver sua partida é um lembrete do fim da vida. Algo que pode causar bastante angústia.
As causas desses sentimentos são variadas, o que também demanda formas diferentes de responder.
3. A importância de viver o processo
Como mencionamos, viver o luto é um processo, não algo que pode ser resolvido de um dia para outro. Pode-se dizer até que ele nunca efetivamente “acaba”, já que essa perda pode causar uma mudança profunda em qualquer pessoa.
Ainda assim, o primeiro passo para seguir em frente é se permitir passar por todas essas emoções de forma saudável. Não quer dizer que será fácil, mas há sempre algumas atitudes, grandes e pequenas, que vão te ajudar.
Veja aqui alguns exemplos que você pode tentar incorporar.
Foque no presente
Um padrão bastante comum para pessoas enlutadas é passar muito tempo refletindo sobre o passado. Agora que a oportunidade de dizer ou fazer algo passou, os arrependimentos se tornam mais difíceis de ignorar. E quanto mais você remoer esses sentimentos, mais eles tendem a se agravar.
Ainda assim, pode ser difícil voltar a pensar no futuro. Mesmo lidar com o dia seguinte pode parecer um grande desafio. Por esse motivo, o primeiro passo no processamento do luto é viver o presente em vez do passado.
Estar presente no momento, tanto fisicamente quanto emocionalmente, evita que esses sentimentos negativos se tornem um ciclo vicioso. Mesmo que você ainda esteja lidando com a perda, essa simples mudança de foco te ajuda a compreender suas emoções com mais clareza.
Exercite a autorreflexão
Pensar sobre si mesmo é uma atitude bastante enriquecedora. Analisar suas próprias emoções, como elas se manifestam e como você age diante de cada uma delas. Um nível de introspecção que pode te ajudar bastante na hora de viver o luto.
Claro, sabemos bem que não é fácil refletir sobre si durante esse período. Especialmente se você ainda está lidando com todas as exigências envolvidas no fim da vida. Porém, é algo que deve ser considerado em seu processo de aceitação.
Certas atividades podem contribuir com essa introspecção. A conexão com a natureza, por exemplo, é uma forma de encontrar paz interior para muitas pessoas, o que cria a oportunidade que você precisa para se concentrar em suas próprias emoções.
Não se force a nada
Falamos bastante sobre o que você pode fazer para lidar com a perda de um ente querido de forma mais saudável e do caminho para a aceitação. Porém, lembramos novamente como cada um deve viver o luto à sua própria maneira, sem seguir uma fórmula.
É importante não se deixar levar pelos sentimentos negativos, mas também é essencial não se forçar demais nesse processo. Cada passo que você dá deve refletir suas próprias experiências e sua relação com esse ente querido. Só assim você tem uma oportunidade melhor de processar o luto.
Desde que você reconheça seus limites, será mais fácil dar cada passo. Respeite seus sentimentos negativos e entenda quando é necessário se distanciar para ganhar uma nova perspectiva.
4. Acolha e expresse suas emoções
Considerando como os sentimentos envolvidos no luto são complexos, não é surpresa que tantas pessoas tenham dificuldade para lidar com todos eles ao mesmo tempo. É um mar de contradições capaz de sobrecarregar qualquer pessoa.
Ainda assim, é importante entender que, por mais difíceis que sejam de lidar, essas emoções são todas importantes para esse processo. Ao acolhê-las, você se permite explorar sua própria relação com esse ente querido e o que sua perda representa.
Veja aqui algumas orientações que podem te ajudar a lidar com esses sentimentos e expressá-los de forma mais saudável.
Se restringir não é saudável
A primeira barreira para acolher as emoções associadas ao luto é conseguir colocá-las para fora. Enquanto esses sentimentos ficam presos do lado de dentro, entalados na garganta, eles não podem ser processados por completo.
É por isso que o choro no luto é tão importante, por exemplo. Esse é um momento de catarse, onde a angústia dessa perda é colocada para fora. Mesmo que a ideia pareça ainda mais angustiante, assim que você para de se conter, todas as demais emoções associadas também vêm à tona.
Após liberar toda essa energia emocional, é comum sentir uma onda de alívio. O coração fica mais leve depois que as emoções negativas são colocadas para fora, permitindo que você faça as pazes com elas.
Aceite o bom e o ruim
Mesmo entendendo a importância de expressar seus sentimentos, muitas pessoas ainda escolhem mantê-los dentro de si. O motivo para isso costuma ser o mesmo: algumas das emoções associadas ao luto não são algo que todos gostariam de assumir diante de outras pessoas.
Por exemplo, pode ser que a sua reação inicial não seja pensar nesse ente querido e sua relação com ele, mas sim no seu medo da morte ou o alívio pelo fim ter finalmente chegado. Uma reação que, para alguns, pode parecer egoísta ou insensível.
Em primeiro lugar, você deve entender que esses pensamentos são naturais e normais. Como mencionamos, as emoções envolvidas no luto são complexas e, em alguns momentos, contraditórias. Ainda assim, você deve se permitir passar por cada uma delas.
5. Quando possível, restabeleça suas rotinas
Após viver o luto, o objetivo é que você possa retomar algum equilíbrio em sua vida, se ajustando à ausência dessa pessoa. Algo que só pode ser realizado de forma ativa e gradual, mas que requer um empenho ativo da sua parte.
Por esse motivo, uma das principais recomendações para quem está passando por esse momento é criar uma rotina. Hábitos são mais fáceis de manter, pois não requerem esforço. E, nesse momento, você quer preservar ao máximo sua energia física, mental e emocional.
Veja algumas dicas que devem te ajudar a restabelecer sua rotina.
Um passo de cada vez
Como já mencionamos algumas vezes, o luto é um processo. É algo que você deve lidar aos poucos, com uma ação de cada vez. No que diz respeito à sua nova rotina, o ideal é começar com passos pequenos, trabalhando um hábito de cada vez, até que ele não demande nenhum esforço da sua parte.
Uma de suas prioridades é encontrar atividades que promovam sua saúde e bem-estar. Sua alimentação, higiene pessoal, movimentação, entre outros. Esses hábitos serão muito importantes na hora de retomar o controle sobre o seu dia a dia.
O progresso é o mais importante
Várias pessoas que passam pelo luto já têm diversas responsabilidades em suas vidas. Crianças, parentes idosos, trabalho, estudos, entre outras exigências com as quais precisam lidar regularmente.
Cada dia que deixam essas tarefas de lado pode gerar um sentimento de culpa. A ponto de algumas pessoas se forçarem a retornar às suas antigas rotinas ou a adotar novas responsabilidades. Algo que apenas agrava a ansiedade já presente no luto.
Lembre-se, o mais importante não é alcançar um resultado, mas sim garantir que você está progredindo. Foque em dar o próximo passo e você terá uma chance melhor de atingir seu objetivo final de forma saudável e equilibrada.
As atividades prazerosas
Além de se esquecer do autocuidado, também é comum que muitas pessoas abram mão das pequenas felicidades do dia a dia. Jogos, filmes, ver amigos ou uma simples caminhada ao ar livre. Todas essas atividades prazerosas têm um papel muito importante no processamento do luto.
Encontrar oportunidades para celebrar a vida é o caminho mais simples para processar esses sentimentos. É um lembrete de como o nosso tempo deve ser bem aproveitado. Além, é claro, de apaziguar alguns dos seus sentimentos negativos.
Ao mesmo tempo, fique atento para que essas atividades não se tornem puro escapismo. Essas devem ser oportunidades para facilitar o processamento do luto, não uma tentativa de suprimi-lo.
6. Busque ajuda se necessário for
A reação de muitas pessoas diante do luto, como mencionamos, é o isolamento. Porém, é nesse momento que você mais precisa estar aberto para procurar ajuda, seja qual for.
Se você tiver dificuldade para processar todos os seus sentimentos de forma saudável, é um sinal de que você precisa de apoio. Não há vergonha nenhuma em pedir ajuda, independente do quão grande ou pequeno pareça o seu desafio.
Veja aqui algumas formas de auxílio que você pode buscar nesse momento.
Terapia
Um ponto de partida para processar os sentimentos de luto é buscar assistência psicológica. A terapia é um espaço feito para lidar com emoções complexas, contando com o auxílio de um profissional treinado para te ajudar nesse processo.
Existem diversos tipos de terapia que você pode buscar nesse momento. Cada método pode ser mais adequado para diferentes tipos de pessoa, de acordo com sua personalidade e a forma como o seu luto se manifesta. Isso também significa que, mesmo quando uma tentativa não atende às suas expectativas, você pode ter êxito com outro método.
Redes de apoio
A presença de familiares e amigos é essencial para viver o luto de forma saudável. Essas pessoas atuam como sua rede de apoio, oferecendo mais estabilidade e te ajudando a superar as dificuldades da vida, especialmente após a perda de uma pessoa próxima.
Além do apoio emocional, essas redes também são essenciais para prover apoio material nesse período. Se a pessoa em questão era responsável por algum aspecto da sua vida, como o cuidado com a casa ou manter seu sustento, sua perda tem diversas implicações no seu dia a dia. Nesse momento, cada pessoa próxima pode assumir parte dessas responsabilidades, até que você possa lidar com elas por si só.
Ajuda médica
Certos transtornos psicológicos, como depressão, ansiedade, transtorno bipolar, entre outros, são profundamente associados a eventos traumáticos. Nesses casos, o luto pode ser um fator agravante para seus sintomas.
Felizmente, muitos desses transtornos têm tratamento clínico adequado. Com a medicação certa, você consegue controlar seu impacto, evitando que eles prejudiquem o processamento do luto.
7. Crie rituais de memória
Em muitos casos, a melhor forma de superar a perda de um ente querido não é esquecê-lo, mas sim relembrar sua presença. Ao focar nos momentos felizes que viveram juntos, você preserva seus sentimentos positivos, transformando sua ausência em um legado.
Esse é um dos motivos para a existência de homenagens fúnebres. O velório e o enterro não são apenas tradições arbitrárias, mas sim uma oportunidade para os familiares e amigos do falecido relembrarem quem era essa pessoa e se despedirem de forma adequada.
Durante o período de luto, é importante ter seus próprios rituais de memória. Uma fotografia que você deixa sempre por perto, um objeto de valor sentimental, uma canção, entre outras coisas que ajudam a preservar suas lembranças juntos.
8. Vivendo o processo de adaptação
A aceitação da perda não é algo que acontece da noite para o dia. Em alguns casos, você pode levar algum tempo até mesmo para racionalizar a ausência desse ente querido. Porém, assim como todo o processo, trata-se de dar um passo de cada vez.
Cada dia é uma oportunidade para relembrar a presença dessa pessoa querida. Mas é também o momento para seguir em frente, se adaptando a uma nova rotina e nova forma de ser no mundo.
Seguindo essas orientações, você pode viver o luto de forma mais saudável. Desde que entende seus próprios limites emocionais, pode ir lidando pouco a pouco com esses sentimentos, até fazer as pazes com essa perda.
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