Bullying: como identificar e como combater!

17 minutos para ler

Não é preciso muito tempo de pesquisa para encontrar matérias, artigos e diversos conteúdos na internet sobre o problema do bullying e as repercussões dele na nossa sociedade. Afinal de contas, ele rende muitos debates sociais, políticos e, inclusive, de saúde mental.

Dada a seriedade do assunto, muitos pais e pessoas que cuidam de crianças e jovens se questionam como podem se preparar para lidar com o bullying, reduzindo a exposição dos filhos, sobrinhos e netos a ele. Pensando nisso, trouxemos um artigo completo que vai aprofundar o seu conhecimento do tema, mostrar como ele ocorre nas instituições escolares e o que pode ser feito, na prática, para resolvê-lo. Acompanhe!

O que é o bullying?

É uma prática que acontece em ambientes escolares — independentemente de ser um colégio, uma escola de idiomas ou um centro de estudos —, onde uma criança ou um jovem (ou um grupo deles) passa a intimidar um ou mais indivíduos desse local. Esse ato não é algo isolado, mas sim corriqueiro, sem justificativa e frequentemente crescente quanto à dimensão que toma na vida das vítimas.

Afinal, a prática pode consistir em ataques verbais e também físicos, danos materiais e situações vexatórias. Onde o intuito é humilhar, aterrorizar e ameaçar o outro para que ele se sinta impotente, sem capacidade de se defender e com a percepção de que, caso denuncie ou reporte o ocorrido à instituição, haverá retaliações ainda mais graves do que ele já vem vivenciando.

As formas de intimidação

O bullying pode ocorrer focado em uma característica da pessoa (como altura, peso, aparência, cor da pele), em vivências escolares (como uma apresentação oral que não foi muito boa e passa a ser motivo de chacota e perseguição) ou ser generalizado (englobando tudo o que a pessoa é, faz ou fala).

Há ainda outras formas que distinguem o bullying. Por exemplo, a intimidação por associação (quando o indivíduo é próximo de alguém que sofre bullying e, por essa ligação, também passa a ser alvo dos ataques) e a intimidação que parte de pré-julgamentos socioculturais, como a origem étnica da pessoa, a religião que ela tem, os hábitos alimentares que ela segue, o local que reside e as condições financeiras.

As explicações por trás do bullying

Como dito há pouco, não há justificativa para a ocorrência desse tipo de intimidação. Contudo, é sabido que alguns fatores podem estar envolvidos direta ou indiretamente para o surgimento e principalmente a manutenção dela no ambiente escolar.

É o caso de preconceitos (como racismo, capacitismo, homofobia, entre outros.), diferenças culturais e de classe social e o interesse do praticante de bullying em chamar a atenção dos iguais e criar uma hierarquia entre pares

Além disso, há os problemas familiares que geram um lar instável, incompatível com o desenvolvimento humano sadio e marcado por violência para determinados menores de idade que, infelizmente, acabam sendo transportados para o colegial.

Fora esses exemplos, há os casos de crianças e adolescentes que se vêem coagidos a praticar bullying contra os colegas para não se tornarem eles as próximas vítimas. Um cenário que acontece quando a intimidação está intrinsecamente arraigada no ambiente escolar e não são tomadas medidas para sanar o problema.

Existe legislação sobre o tema?

A resposta é sim. Em 2015, foi lançada a lei nº 13.185 que instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática. Ela adota esse termo para traduzir o bullying ao nosso idioma e para conceitualizar do que se trata essa problemática e a gravidade dela.

Além disso, ela apresenta exemplos de como essa prática ocorre e ainda discute a versão online do bullying: o cyberbullying — do qual falaremos de forma mais detalhada no próximo tópico. Já a lei nº 14.811/24, por sua vez, reforça os conceitos já vigentes, atualizando a legislação com foco na prevenção e no combate à violência contra crianças e adolescentes em espaços educacionais.

Abaixo, você confere alguns dos principais pontos da lei nº 13.185. Fique atento!

Os objetivos da lei

O Programa de Combate à Intimidação Sistemática reúne nove objetivos para a implementação e efetivação dele. É o caso da promoção de campanhas de conscientização sobre o bullying, da assistência psicológica às crianças e aos adolescentes, da divulgação da temática nos meios de comunicação para alertar a sociedade e das ações de combate à violência (inclusive no nível escolar).

Além disso, há dois pontos que merecem atenção aqui. O primeiro é a que a lei fala da necessidade de capacitar os professores e demais funcionários do ambiente educacional para saber lidar de forma efetiva com esse problema.

O segundo é sobre dar suporte informativo e consultivo aos pais, familiares e demais responsáveis legais pelos jovens a respeito de como identificar vítimas de bullying e, inclusive, aqueles que são os agressores e perpetuadores dessa prática.

O que a lei diz sobre as instituições de ensino

A legislação versa que os ambientes educacionais, sejam eles públicos, sejam eles privados, devem se comprometer com medidas de prevenção do bullying a partir da conscientização dos alunos sobre o tema.

Para completar, as escolas, os centros e as demais unidades de ensino devem ser capazes de identificar precocemente e de forma precisa os casos de intimidação sistemática que já estejam ocorrendo no espaço da instituição. O que, por sua vez, nos leva ao último ponto: estratégias para barrar a prática de bullying, punir adequadamente os responsáveis e prestar acolhimento biopsicossocial aos estudantes que foram vítimas.

Levantamento de dados

Um terceiro e último ponto é sobre a coleta de informações a respeito da intimidação sistemática nas escolas brasileiras. Algo que é de grande valor para entendermos a dimensão desse problema e termos informações atuais sobre os contextos em que o bullying se apresenta com mais persistência e atividade. A princípio, a lei destaca a produção desse material aos níveis estadual e municipal.

Já o decreto nº 12.006/24, por sua vez, definiu o Sistema Nacional de Acompanhamento e Combate à Violência nas Escolas. Entre as iniciativas que são fruto desse documento, o portal do Governo destaca um em especial: o Observatório de Violências nas Escolas que opera virtualmente. Nessa plataforma, é possível conferir dados como:

  • no período de 2019, 39,1% dos adolescentes entre 13 a 17 anos relataram terem sido intimidados por colegas;
  • em 2019, os três principais fatores apontados para a prática de bullying foram a aparência física, a cor da pele e, por fim, a sexualidade dos jovens;
  • em 2021, 37,6% dos diretores de instituições escolares reportaram, pelo menos, um caso identificado de bullying entre os estudantes;
  • no ano de 2021, a intimidação sistemática foi o problema mais recorrente nas escolas (46% delas) na visão dos docentes, sendo seguido justamente pela prática de discriminação (25,9% delas).

Qual é a diferença entre bullying e cyberbullying?

O cyberbullying tem a mesma estrutura da intimidação sistemática. O que muda, de fato, é que essa prática ocorre virtualmente. Ou seja, os agressores fazem uso de recursos eletrônicos, como redes sociais, plataformas, blogs, sites, fóruns e afins para promover ataques à(s) vítima(s). Isso pode incluir, por exemplo, publicações, exposição de fotos e vídeos sem consentimento do jovem e montagens.

Vale destacar, inclusive, que ele pode ocorrer em paralelo ao bullying no ambiente escolar. Portanto, ao se discutir a temática e buscar formas de identificar casos onde a intimidação esteja ocorrendo é preciso se atentar tanto ao espaço físico da instituição quanto à internet.

Como identificar vítimas do bullying?

Uma dúvida comum entre as pessoas é como identificar crianças e jovens que são vítimas de bullying. Afinal, não é sempre que eles relatam o que acontece a alguém, seja parente, seja funcionário da instituição.

Em muitos casos, inclusive, ocorre justamente o oposto: eles se silenciam com medo de represálias ou aumento da intimidação sistemática. O que pode tornar a vivência escolar uma experiência insustentável com o tempo. Portanto, trouxemos algumas dicas que exemplificam como você, que é responsável por uma criança ou adolescente, pode identificar sinais de bullying e agir para resguardar o menor de idade. Confira!

Mantenha-se em contato com a instituição escolar

A primeira sugestão é participar da vida escolar do seu filho. Para tanto, não deixe de comparecer a eventos que são promovidos pelo espaço. Essa é uma oportunidade de conhecer os professores dele, os colegas e até mesmo os demais pais e responsáveis legais.

No caso de reuniões e encontros com os docentes e coordenação pedagógica, por exemplo, você pode não só se informar sobre notas e desempenho do seu filho, mas também sobre medidas tomadas pela escola para preservar a integridade física e psicológica dele.

É o caso de práticas contra bullying, preconceito e discriminação. Essa também é uma forma de criar um canal de comunicação efetivo com a escola para que você seja informado com o máximo de brevidade possível em caso de problemas envolvendo a criança ou o adolescente com outros alunos.

Fique atento às mudanças comportamentais e emocionais

Outro ponto de atenção é o seu filho. Observe se ele apresenta mudanças significativas de humor, emoção, comportamento e até mesmo de personalidade. Lembrando que aqui não falamos de alterações pontuais em um dia X ou Y e com um contexto conhecido por trás, mas sim daquelas mudanças significativas que duram duas ou mais semanas e passam a representar a nova rotina dele.

Por exemplo, se ele está mais reativo às pessoas e ao ambiente, se ele aparenta estar mais retraído e desinteressado pelas coisas que gostava, se ele se mostra muito ansioso e nervoso com a ideia de ir para a escola, se há modificações no apetite e no sono, se o desempenho escolar cai continuamente e se ele passa muito tempo deitado, sem se divertir, brincar ou ter momentos de lazer.

Reforce a comunicação com a criança e/ou o jovem

A terceira dica é se comunicar com o seu filho. O objetivo não é cobrar informações ou forçar ele a falar. Ao contrário, é demonstrar que você está presente, se preocupa com ele e quer o melhor para ele. Tudo isso sem julgamentos, críticas ou “poréns”. É importante que a criança ou o jovem se sinta amado, acolhido e com uma figura de apego que está disponível para dar segurança e suporte ao que ele precisar.

A partir da constituição dessa base, você abre um espaço para que o seu filho se sinta preparado para compartilhar informações, questões pessoais e, em particular, problemas que tem enfrentado e como tem lidado com eles — e isso vale não só para o bullying, como também para outros aspectos da vida pessoal.

Quais as consequências do bullying?

Agora que já explicamos o que é o bullying e como ele se manifesta, é importante conhecer as consequências desse problema. Afinal de contas, não estamos falando de repercussões que se restringem apenas ao ambiente educacional. Ao contrário, elas englobam diferentes áreas da vida de crianças e adolescentes e podem, inclusive, perdurar por anos até a fase adulta. Portanto, fique atento aos itens abaixo para saber mais!

Queda no rendimento estudantil

Uma das principais consequências é a redução significativa do rendimento dos alunos. As notas caem, a participação em sala de aula se torna a mínima possível, o resultado de trabalhos fica a desejar e o engajamento com atividades extracurriculares deixa de existir.

Com isso, o aprendizado de crianças e adolescentes é impactado, assim como a capacidade de socialização, de flexibilidade cognitiva, de adaptação e criatividade. Como consequência, não é raro ver jovens que precisam de reforço escolar, ficam de recuperação e até mesmo reprovam de ano.

Evasão escolar crescente

Outra consequência é o aumento da evasão escolar. Afinal, as vítimas de bullying podem se sentir desamparadas e constantemente ameaçadas em um espaço que deveria proporcionar segurança e estabilidade. Logo, com medo das intimidações, jovens começam a faltar às aulas e podem chegar a não querer mais frequentar o colégio, abandonando de vez os estudos.

Em alguns casos, os responsáveis legais até conseguem manejar a troca de escola do filho. Porém, essa não é uma realidade para todos. Isso porque a depender do andamento do ano letivo, do tipo de rede onde ele estuda (pública ou privada) e dos processos internos das instituições, fica inviável essa mudança.

Desenvolvimento de transtornos mentais

A intimidação sistemática pode levar a um comprometimento severo da saúde mental de crianças e adolescentes, a ponto deles desenvolverem um transtorno mental. Como exemplo, podemos citar:

  • transtorno depressivo maior;
  • transtorno de pânico;
  • transtorno de ansiedade generalizada;
  • transtorno de estresse pós-traumático;
  • anorexia nervosa;
  • bulimia nervosa;
  • transtorno de compulsão alimentar.

A dimensão desses problemas é bastante séria, pois os quadros podem se tornar crônicos ao longo do tempo, perdurando até a vida adulta, além de haver alta comorbidade entre esses transtornos.

Ou seja, um jovem pode ter dois ou mais deles simultaneamente, com um contribuindo para tornar o outro mais resistente e com sintomas mais marcantes. Tudo isso pode gerar mudanças acentuadas no comportamento, na personalidade, na autoestima e na cognição.

Ideação e comportamento suicidas

Paralelo ao aparecimento de transtornos mentais, principalmente a depressão, é possível que crianças e adolescentes vítimas de bullying também desenvolvam ideação suicida. Mas ainda: que alguns cheguem a ter comportamento suicida.

Isso porque a intimidação sistemática e em larga escala prejudica a saúde mental, a qualidade de vida, reduz o círculo social da vítima, aumenta a vivência de emoções negativas e traz efeitos psicológicos persistentes (como baixa capacidade de se motivar e de se sentir bem consigo mesmo, redução no envolvimento com atividades diárias e dificuldade em se comunicar com os demais).

Tudo fica ainda mais grave quando o jovem tenta obter apoio dos pais e da escola, mas acaba não sendo levado a sério, tem suas solicitações de ajuda ignoradas ou é estimulado a aguentar toda a pressão e o sofrimento por ser “algo comum de crianças e adolescentes”.

Afinal, em um contexto como esse, o jovem pode se sentir desamparado, sem referência de como pôr fim ao tormento que vivencia, e desesperançoso quanto ao futuro. O que dá margem para os pensamentos de autoextermínio.

Escalada da violência nas escolas

Um último ponto a ser destacado aqui é a escalada da violência nas escolas. Você já deve ter visto na tv, nos jornais e na própria internet, casos de jovens que foram vítimas de bullying e não tiveram suporte da equipe pedagógica e/ou dos familiares. Como resultado, muitos acabam encontrando na violência uma forma de revidar o sofrimento físico e psicológico que sofreram por semanas, meses e até mesmo anos.

É justamente aí que acontecem ataques armados aos colégios e muitas vidas são perdidas nesses trágicos incidentes. Não só de crianças e adolescentes, mas também de professores, zeladores, seguranças etc. Situações que poderiam, sim, ser evitadas com a devida ação da sociedade e com a correta atenção aos prejuízos que a intimidação sistemática gera.

Como combater o bullying?

Para concluir, vale a pena aprender sobre algumas ações importantes que ajudam a combater o bullying. Tome nota e se inspire nelas para fazer a diferença na vida de crianças e adolescentes!

Palestras e oficinas contra a violência escolar

As escolas devem assumir uma postura ativa sobre a conscientização da gravidade e dos riscos do bullying. Para tanto, é interessante que ela promova, ao longo do ano letivo, palestras e oficinas que abordam o assunto, esclarecendo o que é ele, as causas e consequências dele e que tragam medidas que a instituição tem tomado para pôr fim a esse problema e proteger os jovens.

Dessa forma, os estudantes poderão saber como identificar casos de intimidação sistemática e a quem recorrer na escola para fazer denúncias, receber suporte psicológico e não ter o desempenho acadêmico prejudicado.

Mediação de conflitos

Outra ação importante no ambiente escolar é a prática de mediação de conflitos pela coordenação pedagógica. Ela deve ocorrer sempre que professores e demais profissionais da instituição identificarem desavenças ou hostilidades entre os alunos sejam em sala de aula, seja nos demais espaços da unidade. Assim, é possível agir na raiz do problema, propondo um diálogo mediado entre eles.

Trazendo soluções equilibradas para ambos os envolvidos e buscando promover a união, a paz e o bom convívio entre todos os estudantes. Mais ainda: mostrando que a violência não é nem nunca será a solução para esses casos. Isso tudo é útil para evitar que conflitos pontuais se tornem, eventualmente, estopins para intimidações sistemáticas.

Acompanhamento psicológico

Uma terceira dica é o acompanhamento psicológico na rotina do seu filho. Isso é importante porque esse profissional vai auxiliar em processos psicológicos típicos da infância e da adolescência, contribuir para o equilíbrio emocional e a saúde mental e ajudar no tratamento de possíveis transtornos mentais.

Além disso, jovens que estão sofrendo bullying e não se sentem confortáveis em abordar o assunto com os demais podem trabalhar, ao lado de psicólogos, para desenvolverem as habilidades comportamentais necessárias para não terem mais receio ou vergonha de procurarem ajuda na família, amigos, escola e até mesmo na justiça (quando necessário) para solucionarem a intimidação.

Fora o fato de que a terapia será uma oportunidade essencial para lidar com traumas e questões negativas dessa vivência na personalidade, na autoestima e na visão de mundo. Evitando, assim, que os impactos permaneçam ao longo da juventude e reverberem na vida adulta.

Como você leu, o bullying não é um problema qualquer. É uma situação que, infelizmente, acontece na realidade de muitos ambientes escolares e que requer a cooperação contínua de pais, professores, profissionais da saúde e demais membros da sociedade para fazer vale a lei nº 13.185/15 e para que sejam implementadas medidas de prevenção, conscientização e coibição da intimidação sistemática.

Além disso, é importante que pais e responsáveis legais por crianças e adolescentes se aprofundem cada vez mais em como identificar, ajudar e orientar quem é vítima de bullying, garantindo que esses jovens possam superar essa experiência negativa, recobrando a saúde mental, o desempenho acadêmico e a qualidade de vida. Portanto, discutir e colocar esse tema em evidência é fundamental!

Gostou do post e quer que mais pessoas fiquem bem informadas sobre o assunto? Então é só compartilhá-lo nos seus perfis do Facebook, Instagram, X, Tik Tok, YouTube e demais plataformas!

Posts relacionados

Deixe um comentário