Como já diz o ditado, “quem canta, seus males espanta”. Escutar música, cantar, compor e tocar instrumentos pode fazer muito bem à sua saúde, tanto física quanto mental. Depois de entender para que serve a musicoterapia, essa ideia fica bem mais evidente.
Seja para promover sua qualidade de vida no dia a dia como parte de um tratamento, a música pode sim ser uma ferramenta muito importante. Se você está passando por um momento difícil emocionalmente ou tem uma pessoa próxima que pode se beneficiar desse método, é algo vale a pena considerar.
Acompanhe e entenda para que serve a musicoterapia, como ela surgiu, benefícios, aplicações e tudo mais que você precisa saber a respeito.
O que é musicoterapia?
Como o nome diz, a musicoterapia é uma área de estudos relacionada à arteterapia que explora a aplicação da música a diversos tipos de tratamento. É uma forma de misturar essa arte com o conhecimento da medicina para melhorar a saúde e o bem-estar do paciente e ampliar os benefícios de outros tratamentos.
Você provavelmente já sabe como a música pode ter efeitos positivos para o corpo e para a mente. Ela pode relaxar, estimular a memória e a percepção, ajudar na organização dos pensamentos e na expressão de sentimentos. É através dessas interações que o terapeuta busca melhorar a qualidade de vida do paciente.
Mas a musicoterapia não serve apenas para lidar com transtornos ou doenças. Ela pode ser uma forma de promover o seu bem-estar, quando bem aplicada. Sendo assim, você não precisa esperar para torná-la parte da sua rotina.
Como surgiu a musicoterapia?
É difícil estabelecer um ponto específico na história da humanidade em que a musicoterapia surgiu. Afinal, as pessoas usam a música como forma de saúde e bem-estar desde a antiguidade. A “terapia do canto” é uma prática que data desde o Egito antigo, mais de 5000 anos antes de Cristo.
Porém, o entendimento moderno da música como forma de terapia se estabeleceu com mais clareza durante o século XVIII. Foi em 1789 que o termo foi mencionado pela primeira vez no artigo “Music Physically Considered” (Música Considerada Fisicamente), que foi publicado na Columbian Magazine, mas cuja autoria é desconhecida.
Já as primeiras organizações formais que aplicavam a musicoterapia vieram no século XX, nos Estados Unidos. Muitas delas lidando com o tratamento de veteranos de guerra que sofreram com danos neurológicos e experiências traumáticas.
A primeira foi a National Society of Musical Therapeutics, fundada por Eva Augusta Vescelius em 1901. A National Association for Music in Hospitals veio em 1926, com Isa Maud, enquanto a National Foundation for Music Therapy surgiu em 1941, fundada por Harriett Ayer Seymour.
À medida que mais profissionais exerciam a função de terapeuta musical, essas mesmas organizações se consolidaram e levaram à criação de leis para regular sua atuação. Nesse ponto, a musicoterapia já era uma prática reconhecida em escala global.
Naturalmente, esse é um campo em constante mudança. Ele agrega conhecimentos de diversas áreas, principalmente da psicologia e da neurologia. Com mais estudos, esses profissionais podem trazer mais influências positivas para a vida dos pacientes.
Como funciona a musicoterapia?
Assim como existem vários estilos musicais, esse método também pode ser aplicado de diversas maneiras em tratamentos. Não é tão difícil entender para que serve a musicoterapia, mas é complicado explicar como cada sessão funciona.
O método mais simples é usar a música de forma passiva. O terapeuta expõe o paciente a diferentes tipos de sons e músicas, com o intuito de produzir alguma reação. Por exemplo, utilizar instrumentos suaves para auxiliar na diminuição do estresse.
Também existe o componente ativo da musicoterapia, onde o paciente deve produzir parte da música. Seja cantando, tocando um instrumento ou mesmo compondo. Não precisa necessariamente ser uma boa música, apenas algo que parta do próprio indivíduo.
Outra aplicação comum é a musicoterapia em grupo. É um recurso bastante utilizado para promover a interação social. Afinal, a música também é uma experiência social. Vários pacientes podem se juntar e usar a música para trabalhar a comunicação e criar laços.
E esses são apenas alguns exemplos de como a musicoterapia pode ser aplicada. Ela pode mudar bastante de acordo com as pessoas participando, os métodos do terapeuta, os recursos disponíveis e as necessidades de cada paciente.
Quais são os principais benefícios da musicoterapia?
Seja qual for a metodologia escolhida, a musicoterapia traz diversos benefícios para a vida dos pacientes. Veja aqui alguns de seus impactos positivos para diversos tratamentos.
Melhora o humor
A música tem um efeito singular na forma como o ser humano processa suas emoções. Um simples som ou nota pode ser o suficiente para levar a uma reação emocional, seja de tristeza, alegria, paz ou determinação. E esse é um dos motivos para a musicoterapia ser tão utilizada na regulação e equilíbrio emocional.
Muitas pessoas utilizam música no dia a dia para auxiliar nesse processo. Não é incomum ouvir suas músicas favoritas para elevar seu humor após um dia difícil. O terapeuta faz uso dessas conexões para contribuir com o bem-estar psicológico do paciente. A diferença é que isso ocorre de forma mais intencional e direta.
O próprio paciente pode aprender como usar a música para regular as suas próprias emoções e aplicar esse conhecimento em seu dia a dia. É uma pequena mudança de hábitos que pode contribuir bastante com seu bem-estar e saúde mental a longo prazo.
Controle da ansiedade e do estresse
Seguindo a mesma linha de pensamento do tópico anterior, a regulação das emoções é um fator importante para a saúde psicológica de qualquer pessoa. Saber lidar com o estresse e a ansiedade no dia a dia te dá mais agência sobre suas escolhas. Além de ser importante para melhorar suas relações interpessoais.
Pessoas que sofrem com ansiedade ou que passam por um período de transtorno emocional são as que mais precisam de recursos para auxiliar nessa regulação. E a musicoterapia pode ser uma das ferramentas utilizadas por profissionais de saúde para auxiliar esses pacientes.
Por exemplo, a música pode ter um efeito imediato na redução do estresse, diminuindo o nível de alerta e promovendo o relaxamento. A partir disso, o paciente se sente mais seguro e tem uma oportunidade para refletir sobre suas emoções. Esse método pode ser aplicado como ferramenta imediata em momentos de crise, além de um exercício regular com efeitos mais profundos na regulação emocional.
Trabalha a coordenação motora e expressão corporal
No caso da musicoterapia ativa, o próprio paciente utiliza instrumentos musicais ou a própria voz durante o tratamento. Nesse contexto, muitos terapeutas também aplicam esse método como ferramenta para desenvolver a coordenação motora do paciente, dando a ele mais controle sobre o próprio corpo.
A manipulação de diversos instrumentos, seja do violão, piano ou flauta, exige coordenação motora fina e bastante controle corporal. Com a orientação certa, esses instrumentos podem ser usados para trabalhar essas habilidades gradualmente. Algo que ajuda no desenvolvimento infantil ou no processo de reabilitação após cirurgias ou certas doenças.
Outra questão comum associada à musicoterapia é a expressão corporal. Além do som, a música também é composta pelo movimento do corpo inteiro. Essa é mais uma forma de trabalhar a comunicação e expressão de sentimentos através do corpo, que é uma questão a qual várias pessoas precisam trabalhar.
Trabalha a comunicação e expressão de sentimentos
Música é, em essência, uma forma de se expressar e celebrar a vida. Algumas das canções mais memoráveis são aquelas que transmitem um sentimento forte e distinto, que estão associadas a um momento importante da sua vida. Vários tipos de música são criados especificamente para expressar emoções complexas de forma artística e formar conexões com outras pessoas.
Essa não é uma experiência incomum. Muitas pessoas têm dificuldade para estabelecer laços ou se expressar de forma mais coerente. Para esses indivíduos, a música atua como uma linguagem intermediária, que ajuda a traduzir seus pensamentos individuais em algo que pode ser transmitido para outras pessoas.
O melhor exemplo disso é a musicoterapia coletiva. Nesses tipos de tratamento, vários pacientes são reunidos ao redor da música, trocando suas expressões de sentimento, mas também aprendendo a se coordenar para produzir o som desejado. Por intermédio da música, todos têm uma oportunidade para aprender como se comunicar de forma clara.
Desenvolver a disciplina
Aprender algo novo requer tempo e persistência, não importa qual seja o contexto. No caso da música, é necessário exercitar seu aprendizado todos os dias até dominar um instrumento o suficiente para se expressar através dele com clareza. Mesmo o canto, que é o mais simples, precisa de bastante prática para ser aprimorado.
Muitas pessoas, inclusive, desistem desse aprendizado rapidamente, já que os resultados podem demorar algum tempo até serem notados. Esse é um dos contextos em que a musicoterapia mostra seus benefícios.
Quando o terapeuta incentiva o paciente a praticar com um instrumento musical, está também construindo uma série de habilidades. Por exemplo, o desenvolvimento da resiliência e da disciplina, que são fundamentais em todos os estágios da vida.
Ao mesmo tempo, quando os resultados da música se tornam mais notáveis, o paciente pode confirmar o sucesso do seu esforço. Alcançar esse retorno também é um passo importante para que as lições aprendidas sejam fixadas e incorporadas no dia a dia.
Contribui com a saúde física
Falamos muito sobre os benefícios da musicoterapia para a mente, mas ela também pode ter um papel importante na saúde do corpo. Não apenas na coordenação motora, mas em diversos outros aspectos.
Vamos pensar um pouco em como diferentes instrumentos musicais são tocados. A maioria exige a movimentação das mãos e braços, como mencionamos no tópico sobre coordenação motora. Instrumentos de sopro exigem fôlego e respiração adequada. Se forem pesados, é necessário fazer algum esforço para posicioná-los. E, em quase todo caso, o ato de tocar também estimula os batimentos cardíacos, o que favorece a circulação e oxigenação do sangue.
Como você deve imaginar, todas essas atividades produzem um efeito positivo no corpo. Sem mencionar que, apenas por pensar em música, o sistema nervoso estabelece novas conexões, resultado do processamento de emoções, raciocínio e movimentação dos músculos. Vários elementos importantes para manter a saúde física, desde a juventude até a velhice.
Em quais tratamentos a musicoterapia pode ser aplicada?
Como você já deve imaginar, a musicoterapia é uma ferramenta bastante versátil no tratamento de diversas condições. Por esse motivo, muitos terapeutas se especializam nessa área de conhecimento ao longo de suas carreiras.
Veja aqui alguns dos principais casos em que a musicoterapia pode trazer bons resultados.
Alzheimer
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, conhecida principalmente pelo seu efeito na memória. Seus efeitos progridem gradualmente, prejudicando a capacidade do paciente de manter sua rotina, sua autonomia e de dar continuidade às suas atividades diárias.
Essa condição não tem cura, mas ainda é possível controlar seus efeitos e manter sua qualidade pelo maior tempo possível. Existem diversos medicamentos e tratamentos feitos especificamente para essa finalidade. Da mesma forma, a musicoterapia pode ter um papel importante.
Uma parte importante da música é o exercício da memória. Ao ouvir, o paciente cria conexões fortes entre som, sentimento e lembranças do passado, o que ajuda a preservar sua memória por mais tempo. Da mesma forma, o movimento do corpo e o estímulo auditivo fortalecem ligações neurais, desacelerando sua deterioração.
Depressão
A depressão é um dos transtornos psicológicos mais comuns na vida moderna. Ela é caracterizada pela perda de disposição e falta de sensação de prazer no dia a dia, mesmo diante de suas atividades favoritas. Também é bom destacar que os sintomas devem ser persistentes, não algo pontual.
Como as causas da depressão podem ser bem variadas ou mesmo múltiplas, é difícil apontar um único tratamento. Algumas pessoas precisam do auxílio de medicamentos, enquanto conseguem trabalhar esses sentimentos gradualmente apenas com a psicoterapia. Em ambos os casos, a musicoterapia também pode ser utilizada como auxiliar.
Novamente, a música aqui é usada como fator de regulação. Certas canções e tons são usados para despertar uma reação emocional no paciente, estimulando a melhora do seu humor e disposição no dia a dia. Além disso, o ato de cantar ou tocar um instrumento pode ser tanto uma fonte de prazer quanto uma forma de catarse para os sentimentos que levaram à depressão.
Espectro autista
Aprender a lidar com as exigências da sociedade é especialmente difícil para pessoas no espectro autista, mesmo nos casos mais brandos. Algumas dessas pessoas têm dificuldade para entender sinais não-verbais ou reconhecer emoções, habilidades que normalmente são aprendidas desde os primeiros anos de vida.
A questão aqui não é obrigar pessoas nos espetro autista a se conformar, mas sim encontrar uma forma de estabelecer esse contato. Novamente, a música se apresenta como uma linguagem intermediária, auxiliando na criação desses laços.
Através dos instrumentos musicais, uma pessoa no espectro autista pode aprender como expressar seus sentimentos através da música, além de aprender a identificá-los em outras pessoas. Uma vez estabelecida essa linguagem, o paciente pode começar a desenvolver sua comunicação e autonomia em outras áreas de sua vida.
Estresse pós-traumático
O Transtorno de Estresse Pós-traumático é uma condição psicológica associada à experiência de um evento traumático, o qual ainda se faz presente no dia a dia. Pacientes passando por esse transtorno podem reviver o seu trauma regularmente, apresentar diversos sintomas psicossomáticos e tendem a sofrer com hiperexcitabilidade, reagindo de forma brusca a estímulos suaves.
A medicação e o tratamento psicoterapêutico são os métodos mais comuns para lidar com esses casos. Leva tempo até que o paciente consiga controlar sua reação ou pare de revisitar seu trauma. Porém, muitas pessoas continuam lidando com esses sintomas ao longo de toda a vida, mesmo que em menor escala.
O uso da musicoterapia tem um papel importante na regulação emocional desse paciente, tentando diminuir ao máximo seu nível de estresse. Assim, é possível evitar uma reação muito brusca diante de novos estímulos. Pouco a pouco, isso facilita a implementação de outros métodos de tratamento.
Luto
Lidar com a perda de uma pessoa próxima nunca é uma experiência fácil. Todos passam por um período de luto após esse evento, mesmo que cada um à sua própria maneira. Alguns retornam à sua rotina mais rapidamente, enquanto outros precisam de maior apoio para processar o sentimento de perda.
Também é comum utilizar a música para auxiliar nesse processo. Seu efeito na regulação emocional ajuda pessoas cujo luto se torna paralisante, permitindo que ela retome o controle de sua rotina. Algo importante para trabalhar a aceitação da perda.
Ela também pode ser usada para evocar os sentimentos de perda em pessoas que tendem a reprimir suas emoções negativas. Nesses casos, o objetivo é produzir uma catarse inicial, a partir da qual o paciente expressa suas emoções de forma mais clara. Assim, o terapeuta tem uma oportunidade de trabalhar esses sentimentos.
Reabilitação motora
Diversos tipos de cirurgias ou acidentes podem levar à perda de capacidade motora. A falta de coordenação ou de tônus muscular dificulta várias atividades do dia a dia, o que limita sua autonomia. Por isso é importante começar o tratamento o quanto antes para recuperar sua capacidade.
Nos casos de pessoas que precisam recuperar sua coordenação motora, a musicoterapia é um excelente recurso. Os movimentos usados para tocar os instrumentos são um excelente exercício para fortalecer esses músculos e restabelecer sua movimentação de forma saudável. Se o paciente se divertir com o processo, isso também o mantém motivado ao longo de todo o tratamento.
Reabilitação respiratória
Assim como o movimento das mãos, a respiração também é um componente indispensável para a música. Isso é evidente no caso de instrumentos de sopro, como flautas e trombones, ou no canto. Mas o mesmo princípio se aplica a todos os instrumentos, pois você precisa manter uma respiração constante para manipulá-los.
No caso de pacientes que estão se recuperando de doenças respiratórias, pode ser uma boa ideia exercitar os pulmões através do canto ou instrumentos de sopro. Eles trabalham não apenas a intensidade do fôlego, mas também a capacidade de controlar a quantidade de ar que sai dos pulmões a cada segundo.
Por outro lado, para pacientes que ainda têm dificuldades respiratórias, é possível alcançar um resultado similar com outros tipos de instrumentos. Eles estimulam a mente e os batimentos cardíacos, o que acelera a circulação de oxigênio em todo o corpo, afetando a respiração de forma indireta.
Transtorno de Déficit de Atenção
O Déficit de Atenção, ou TDAH, como também é conhecido, é uma condição também bastante comum atualmente. Ela se caracteriza pela dificuldade de foco e inquietação frequentes. É bastante associada a crianças hiperativas e impulsivas, mas ela também pode se manifestar de forma mais silenciosa, como a perda súbita de foco em uma tarefa devido à falta de estímulo imediato.
A musicoterapia é bastante usada nos tratamentos terapêuticos de TDAH, especialmente em crianças. A música em si é um forte estímulo, envolvendo diversas partes do cérebro ao mesmo tempo. Ela também exige bastante foco, desde a manipulação adequada dos instrumentos até a consideração adequada das notas.
Novamente, o aprendizado da música é usado para intermediar a comunicação do paciente com o terapeuta. Ter uma tarefa que exige não só concentração, mas também disciplina, ajuda a exercitar o foco, que é o principal desafio do TDAH.
Para quem a musicoterapia é indicada?
Os benefícios da terapia musical são bem amplos, como você pôde notar. Por esse motivo, qualquer pessoa pode se beneficiar da musicoterapia, desde que ela seja bem aplicada. Não se trata apenas de aprender um instrumento, mas do uso intencional da música como parte do tratamento.
O primeiro passo é encontrar um profissional especializado em musicoterapia. Assim, você tem maior garantia de que a metodologia de tratamento terá o efeito desejado. E, claro, nada te impede de aprender mais sobre a música no seu próprio tempo.
Agora você entende melhor para que serve a musicoterapia e em quais contextos ela pode ser aplicada. Se você está passando por um momento difícil em sua vida, algumas canções, quando bem utilizadas, podem te ajudar a seguir em frente. Além de construir novas habilidades e se fortalecer no caminho.
E você, já experimentou ou considerou a musicoterapia? Conte-nos sua experiência nos comentários.